quinta-feira, 19 de maio de 2011

Resenha do Cisne Negro

Tommy Beresford
Jamais começaria a resenha de “Cisne Negro” com “este é o papel da vida de Natalie Portman”. Primeiro porque, para mim, esta frase soa como “o derradeiro voo do cisne” (trocadilho inevitável), como se ela nunca mais fosse interpretar algo tão bom ou tão importante. Segundo porque Natalie já provou seu enorme talento em outros papéis.
O fato é que a interpretação de Portman vale realmente cada um dos prêmios que recebeu até agora (entre eles, o Screen Actors Guild, o Globo de Ouro de Drama e o BAFTA) e deve mesmo levar o Oscar, ainda que dispute com candidatas fortes como Annette Bening, ótima em Minhas Mães e Meu Pai.
Seja como for, a excelência do trabalho de Portman vem de toda a preparação que ela precisou fazer para o papel. Ainda mais magra, com exaustivas aulas de dança (embora use dublê em parte das cenas), a atriz dá veracidade à aparentemente doçura de Nina, e consegue transmitir a tensão de toda a transformação pela qual passa. Fico pensando em qual outra boa atriz poderia ter se dedicado e ter feito um trabalho de qualidade neste específico e difícil papel que não Portman. Inclusive fisicamente: não basta apenas talento, é preciso mais que isso. Algumas inclusive teriam que tirar o silicone…
Talvez os que não tenham contato com o mundo da dança (em especial o exigente métier do Ballet Clássico) não entendam a pressão, e claro que o filme leva não somente a situação ao limite como mostra o que a bipolaridade pode fazer com alguém: é bastante competente o tratamento dado aos temas pelo diretor Darren Aronofsky (que vem do excelente “O Lutador” e do incompreendido “Fonte da Vida”).
Seja como for, o filme é de Natalie Portman e ela não despediçou a oportunidade. Mas é impossível não citar o trabalho de Mila Kunis (ganhadora do “Marcello Mastroianni Award” no Festival de Veneza e que levou uma indicação ao Globo de Ouro, perdendo para Melissa Leo de “O Vencedor”) e a minúscula participação de Winona Ryder (tem gente que só a reconheceu quando a viu nos créditos), além da reaparição de Barbara Hershey, intensa na composição da mais empenhada “ex-bailarina frustrada que é mãe de bailarina talentosa”. Como coreógrafo, o ótimo Vincent Cassel nunca esteve tão canastrão, mas não destoa muito, felizmente.
Vale a pena assistir, mas é bom realçar que não é um mero entretenimento. Há te(n)são, cenas fortes, a câmera (bem utilizada nas sequências de ensaios) muitas vezes têm closes trêmulos e cansativos, mas não deixe de assistir.

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